CONSENSUAL

Eu me extasio com o que sou: homem!

Há um certo deslumbramento em assenhorar-se assim,

Pois percebo sombras em meus sonhos existenciais...

Não sou cego. Minha vista alcança devaneios secretos

Meio desprezados perante a nobreza que há em mim

E muitas vezes minhas palavras são hieróglifos: não as entendo!

Eu amo o animal que sou: desprezado, às vezes; emotivo, sempre.

Contemplo-me até diante dos ossos: não consigo, nunca, roê-los!

É possível que eu me desfolhe embora não conviva com o outono.

Isso é nobre; ao mesmo tempo, torpe! Lentamente busco entender.

Nada depressa faço juízo. A liberdade é arcaica; a prisão, indolente!

Sabiamente devo carregar-me dos frutos da árvore que sou: doce...

O salgado e o insosso estão mergulhados num esquecimento volátil.

Timidez e apatia levam-me aos desordeiros tecidos da imaginação.

Na verdade, sou milagre duma existência repleta de folhas... secas!

DE Ivan de Oliveira Melo

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 15/08/2017
Código do texto: T6084141
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