FEBRE DE AMOR
Todo fim tem no ventre um novo começo,
é como rezar infinitamente as contas do mesmo terço,
balançar suavemente o mesmo, que range, berço,
água no poço, sarilho velho, o balde desço...
Em todo começo se pressupõe que um fim aja,
de tanto subir e descer o rio a velha barca
traça um poema de olhos d'água,
sulca a pele do rio, deixa marcas...
Entre o fim e o começo vivemos nós
como se em um coral cantando na mesma voz,
sangue do mesmo sangue, esquilos da mesma noz,
superando limites, alçando voos, da mesma calça, cós...
Passo diante de alguém que me olha bem e não reconhece,
parece que viemos do pó de estrelas de uma outra plebe,
visivelmente orangos em tangos nos tablados de outra espécie,
furados por neutrinos somos os instantes em que o amor tem febre...