MARRÉ DECI
Aprendi a me calar
quando ainda era criança.
Parte apreendi por medo;
outra por insegurança.
Medo de admitir
que era pobre de raíz.
Mais ainda por ser
podre podre de marré deci.
Tive inveja dos amigos,
coisa de cria sem paz.
Alta prosa, baixa estima,
pois 'nada' nunca é demais.
D'outras vezes fui artista,
desses que utilizam giz:
rabiscava tanto o pranto
quanto quando era feliz.
Essa cerca de madeira
e vime, construí depois
de saber que quatro não
era somente dois mais dois;
Antes de perder a conta
[fiz de lápis num papel],
descobri que nenhum número
me levaria ao céu.
Minhas palavras de giz
se apagaram sem ninguém
perceber se era só
pura pintura ou algo além.
Ninguém questionou se o risco
era desenho ou lembrança;
aprendi a me calar
quando ainda era criança.