MARRÉ DECI

Aprendi a me calar

quando ainda era criança.

Parte apreendi por medo;

outra por insegurança.

Medo de admitir

que era pobre de raíz.

Mais ainda por ser

podre podre de marré deci.

Tive inveja dos amigos,

coisa de cria sem paz.

Alta prosa, baixa estima,

pois 'nada' nunca é demais.

D'outras vezes fui artista,

desses que utilizam giz:

rabiscava tanto o pranto

quanto quando era feliz.

Essa cerca de madeira

e vime, construí depois

de saber que quatro não

era somente dois mais dois;

Antes de perder a conta

[fiz de lápis num papel],

descobri que nenhum número

me levaria ao céu.

Minhas palavras de giz

se apagaram sem ninguém

perceber se era só

pura pintura ou algo além.

Ninguém questionou se o risco

era desenho ou lembrança;

aprendi a me calar

quando ainda era criança.

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 03/08/2017
Reeditado em 16/08/2017
Código do texto: T6073669
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