Desborboletizada
Memórias inqueridas de quando era borboleta,
até por heroicos cavaleiros desejada.
Mas hei de ser lembrada, por mais errada,
tornou-se essa estrada; rumo a sarjeta.
No breu a metamorfose foi ao inverso:
Dispûs-me de asas e sonhos no meu casulo.
Abrigo de um verme, qual perverso
comeu minhas asas, pintou meu túmulo.
No chão permaneci em preto e branco
e o branco eu rabisquei em confusão.
No escuro tudo é nada e só então
achei-me, perdida nesse barranco.
Desprovida agora de sonhos e de asas
desacelero-me em pinceladas esverdeadas
e divirto-me com as cores, todas erradas,
provindas das folhas podres das calçadas.
Reclamo a ti de tudo e de mim mesma.
Grito e choro os erros de outrora.
No vazio, detesto a mim e a tristeza
impregnada no eu falho de agora.
Viria, ó cavaleiro heroico, salvar-me?
Venha de óculos, livro, uma cerveja.
Evoque sua luz e esculpa-me sobre a mesa.
Estapeie-me mentalmente até que eu saia dessa baderna.
Desumanize-me numa nova princesa moderna