Desborboletizada

Memórias inqueridas de quando era borboleta,

até por heroicos cavaleiros desejada.

Mas hei de ser lembrada, por mais errada,

tornou-se essa estrada; rumo a sarjeta.

No breu a metamorfose foi ao inverso:

Dispûs-me de asas e sonhos no meu casulo.

Abrigo de um verme, qual perverso

comeu minhas asas, pintou meu túmulo.

No chão permaneci em preto e branco

e o branco eu rabisquei em confusão.

No escuro tudo é nada e só então

achei-me, perdida nesse barranco.

Desprovida agora de sonhos e de asas

desacelero-me em pinceladas esverdeadas

e divirto-me com as cores, todas erradas,

provindas das folhas podres das calçadas.

Reclamo a ti de tudo e de mim mesma.

Grito e choro os erros de outrora.

No vazio, detesto a mim e a tristeza

impregnada no eu falho de agora.

Viria, ó cavaleiro heroico, salvar-me?

Venha de óculos, livro, uma cerveja.

Evoque sua luz e esculpa-me sobre a mesa.

Estapeie-me mentalmente até que eu saia dessa baderna.

Desumanize-me numa nova princesa moderna

Hygor Marques
Enviado por Hygor Marques em 26/07/2017
Código do texto: T6065036
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