CIDADE MORTA
Havia uma cidade
na minha rua
havia uma cidade.
Havia uma cidade aqui
que me guardava saudável;
depois da poluição noturna
perdi minha única saudade.
Agora sou mais imprudente
me aventuro sem pudor
no desconhecido amanhã.
Aqui havia uma cidade
de cal, cimento e povo;
aqui haviam pássaros
uniformizados de azul.
Aqui, onde haviam avencas
só há morros, cinzas e caos.
Hoje não existem flores
nem galhos disfarçados
dependurados nos muros.
Só você aparece última
no meio da chuva mórbida
em meio ao caos e o cós da calça.
Você ainda será outono
quando vier a chuva
quando caírem as folhas.
Não finja que me quer
sou forte, me deixe sofrer
toda a dor do desengano
e do desespero sólido.
Onde havia uma cidade
desmerecida de ti
não haverá mais ninguém.