FAÇA
Faça como o rio,
que não pensa na margem
e nem no homem que nela está,
se o fim de sua vida
será a imensidão do mar...
Faça como a faca que corta o pão
e jamais pensa nas duas partes
que se tornará, então,
o que era inteiro,
o pão de centeio...
Faça como a fruta que não escolhe a boca,
se a do homem manso,
se a louca
que profere impropérios,
se a outra que vocifera mistérios,
apenas se entrega
aos mistérios da fome,
essa senhora sem nome...
Faça como a música que só existe
enquanto você a ouve,
depois desaparece entre as nuvens,
ninguém a viu,
nem dela mais ninguém soube...
Faça como a arte que resiste
à ignorância,
mesmo que dela separe a parte
de inteligência, quando ainda era criança...