Purgatório
Cá me encontro, ponto incontínuo
O agora, ó horror dos horrores!
Ó terrível linha da inexistência!
Pois que sempre me diziam:
- O mundo gira
- O tempo não para
Então o que me contém:
- Um lugar?
- Um momento?
A ambos pertenço,
Querem fazer-me crer.
A mais dimensões ainda
Por vezes, preso me imagino
Afinal, eu sou?
Afinal, eu estou?
E neste mórbido pesar
Para que tanto luxo filosófico?
E nestas horas tão negras
Por que consciência?
Tão mais doce seria a vida
Sem tanta vergonha,
Sem tantas indagações
E nesta estase de negrumes
Febre, dor, degradação
Tudo se desmancha,
No limbo somente, esbarro
Restando-me as brumas do exílio,
Contemplo a humana trajetória
Concebendo sagrados totens e rituais
Como fuga da própria insignificância
A dança do eterno voltar
Numa espiral que materializa
A ausência do próprio tempo
E, enfim constato:
Já não repousa minha paz
No curto e harmonioso
Sono dos cachalotes