VIAGEM
Visitar o mundo todo não é nada comparado
a visitar cada quadrante do seu estado
interior
encontrar a criança que fostes
comendo doce
rindo com as borboletas
abrindo gavetas
escondidas no vão da alma
achar os primeiros pecados
no fundo falso do eu
os mesmos olhos alegres e tristes
saber que nada se perdeu...
Crescer dando a mão ao tempo
caminhar lado a lado com o vento
das descobertas
sentir o frio quando a coberta
cai aos pés da cama
e a negra selva se mostra ereta
e labaredas e chamas
incendeiam o corpo miúdo e frágil
numa evolução estrutural
do macaco ao pensamento ágil...
No fim do passeio
relembrar os seios
da primeira amada
dizendo que tudo vale a pena
a biblioteca serena
um pequeno oratório
dentro do escritório
para uma pequena oração
sussurrada pela voz do coração...