*MEU DESERTO MEU CHÃO

Passei as primaveras sem colher
As flores esmaecidas murcharam
Quando as olhei num entardecer
Não mais sorriram, oh, amarelaram.

Olhei o espelho, o deserto na mira
Pegadas firmes, sonho ventureiro
Como enganar sem marcas curupira
A esperança com o fito primeiro.

Revirei páginas, folheei o tempo
Horas regando os rijos segundos
Em cada despertar em passatempo

A máquina não carecia de conserto
Não havia no cofre capital, fundos
Apenas a canção aspirando acerto.

Nas teclas tristes da rude mensagem
Desviei o piano em pleno concerto
Da inadequação de sons miragens.

Escrava do porvir tracei rabiscos
A mão ingrata descoloriu a tela
Dispersa na emoção e tons ariscos
Perdida a direção à emoção duela.

Mesmo que a tinta roube o tinteiro
Na cor descolorida e na alma nua
A vida caminha no sonho arteiro.

Posso colher agora é só querer
Em cada alvorecer de olhar veleiro
Barca e vontade rumam ao estaleiro
Passei as primaveras sem colher.
***

Nos cinco primeiros vencedoras para
VI Coletânea Século XXI 2017

 
Sonia Nogueira
Enviado por Sonia Nogueira em 07/07/2017
Código do texto: T6047996
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