NA VELHA PONTE DO TEMPO
Na velha ponte do tempo perdido,
A ferrugem corroeu as sustentações,
As madeiras apodreciam sob a chuva,
E ele se arriscava naquele perigo,
Porque em insanidade a si mentia,
Dizendo que as asas do vento poderiam resgatar,
Sem fronteiras, buscando as coisas que foram,
Desconhecendo que apenas o amanhã,
Restaria ao fim dos retalhos daquela ponte.
Ele atravessava aquela ponte que se desmanchava,
Mas a constância do tempo turvava seus olhos,
Acreditava que o que deixara poderia recuperar,
Depositava em uma mala sem fundo suas ilusões,
Enquanto sua vida era sustentada por um fio,
A cada passo um espaço vazio,
Daquilo que se podia, mas não completou,
Que esteve presente nos sonhos, mas não realizou,
Os ponteiros do tempo mostravam aquele abismo.
Imprudente, ele fazia do hoje o que fez preteritamente,
E a ponte ruía aos seus pés,
As árvores dançavam e uivavam assistindo o tempo passar,
E ele a cada passo envelhecia,
E do dia esfumaçado a tarde começou a cair,
Arrependido agora estava, mas não podia voltar,
Em suas mãos a mala ainda vazia,
Sem nada para do outro lado apresentar,
Ele caminhava sobre a velha ponte e o tempo corria.
Ele que tão mal jogou sufocou-se à revelia,
Intempestiva a tentativa de regressar,
E se nesciamente quisesse retroceder,
O que restara da vida perdê-la-ia,
Assim, olhou para frente sem esquecer dos equívocos,
Ele costurou o fundo daquela velha mala, mas ilusões não levaria,
Traria apenas os presentes que o presente lhe entregava,
E já não importava se a velha ponte a cada passo caía,
Pois o que era de valia agora ele guardava e o amanhã já não o assustava.