COMO?

Como posso querer que leia

a poesia que tramo na teia

dos pensamentos

se teus olhos não foram ensinados

para ler o que escreve o vento?

Como posso querer que saia da toca

se a porteira está sem chave e torta

impede os procedimentos para que entres

onde a música a si mesma toca?

Como posso querer que invada

o lar e as mansardas

dos poetas do dinheiro

se de fora sinto o cheiro

das fechaduras que mordem

os calcanhares aquilíneos

dos que ousam e somem?

Como posso dar-te a arte dormente

se nem o do juízo retirou o dente

e pouco vive de ócio e fantasia

e menos ainda de amor e poesia?

Como posso ocultar o que se mostra

se está à vista a frente das costas

do Paraíso que se abre diante de ti

se quando te leio pouco ou nada li?

Como posso exigir coerência

se quando criança te deram o manual da demência

e ao adultares recebeste o manual da loucura

nos livros como a Bíblia o Torá as Escrituras?