Depois de tudo
O que vês quando me olhas?
Decifra-me ou te devoro.
Sou mais do que essa aparência.
Corro todos os riscos.
Vivo à flor da pele.
Minha poesia grita a alma.
Meus sentimentos eclodem.
Não tenho ponto final.
As reticências me preenchem.
As distopias me contemplam.
Depois de tudo ainda sentes saudades minhas,
deixava-te o céu mais azul à cada manhã,
fazia-te sorrir nas maiores tempestades,
era a música que tocava em sua essência.
Negas-me agora, mas continuas a me querer.
O que lestes de mim por aí?
Não sou matéria de jornal.
Não sou retábulo de capela.
Não sou legenda de filme.
Não sou bula de remédio.
Minha transparência ilude.
Meus versos enganam.
Sou a areia do tempo.
Faço dos desertos oásis.
Sou o que desejas de mais secreto.
Depois de tudo ainda sentes tremores comigo,
deixava-te as estrelas mais vivas à cada noite,
fazia-te companhia nas solidões mais intensas,
era o vinho que te entorpecia os sentidos.
Negas-me agora, mas continuas a me sorver.
O que esperas dos meus passos?
Tropeços e quedas sem fim?
Já caí em abismos mais fundos.
Sou um sobrevivente.
Um anjo de asas cortadas.
O anti-herói de seus pesadelos.
A ironia fina que tira seu fôlego.
A lágrima que rola em tua face distraída.
Estou gravado em ti como tatuagem.
Na profundidade da qual não consegues te esconder.
Depois de tudo ainda sonhas comigo,
deixava-te o ar mais leve a cada respiração,
fazia-te a mulher que homem jamais visualizou,
era a chama que consumia teu juízo.
Negas-me agora, mas continuas a me esperar.