A CASA DE TODOS

Dê-se ao luxo de criar o mapa do seu próprio país,

não esse que está aí diante do seu nariz,

fragmentado, mil pedaços possuídos,

riscado a bala e caco de vidro,

manchado de vermelho,

centenas de coelhos

que correm daqui para lá,

nada ali pode se apagar...

Reparta a parte quarta

a quem nada tem,

nem sobre si,

a ninguém,

nem um pedaço de mata,

nem sobre a mesa nada,

pão, cerveja, sorvete,

nem a menor certeza

de que os grãos de terra foram distribuídos

ao filho, ao pai, ao avô, ao aqui nascido...

Faça do seu mapa a casa de todos,

ao pedreiro, ao esteta, à galinha que põe ovos,

semeia o amor que sobra em teu coração,

semeie sem separar o osso do cão...

Em seu mapa poderemos andar

e atravessar fronteiras,

poderemos saltar nas correntezas

sem medo de nos perdermos

nos meandros da feiura da beleza,

em seu mapa recorreremos ao diálogo

para chegarmos a um acordo

sobre como usar o hipotálamo

para não nos tornarmo-nos vegetativos,

massa corpórea usada pelos políticos...

Dê-se ao luxo de ser feliz

bem diante do seu nariz...