Catarse

Abriguei o amor sob o teto da mocidade.

Sob seus caibros e dormentes.

E o tempo fez da casa uma velha

vulnerável às tempestades que sopram

úmidas, sangrentas, acorrentadas atrás das grades

no subsolo do porão.

Em meio a tormenta eu teço teias à mão.

Prendo-as a vigas e cantos

e me penduro...e me balanço...

e encontro consolo na bailarina solitária

e feito uma acrobata, eu danço.

Dispo-me da imagem sua, e deslizo pelas paredes,

pelas fendas, pelos restos da pintura.

E pela fresta da porta eu ganho a rua.

E passo a vagar em vão.

Entre silvos e vagidos, miados e latidos,

a descarga de um raio, o urro de um trovão.

Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 15/06/2017
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