CONTINGENTE

Por cada passo em espaços vazios,

Os laços e desatinos em suas apostas parecem cassino,

A vida que às vezes amarelada encardida,

Compassa-se desajeitada em uma música que não se ensaiou.

A linha que se puxa sem conhecer o final,

Com o peso do contingente,

Em suas incertezas sustentadas em mãos calejadas de coragem,

É o fio que pode tecer ou desfazer o agasalho deste corpo.

Eles em troca de felicidade inverteram a ordem,

Erigiram os telhados frágeis para após alicerçarem os fundamentos,

Em um presságio do que ao vento se desmorona,

Lançando-se aos perigos, entregando a sorte como oferta ao azar.

Porque queriam abraçar um mundo inteiro sem dar um passo por vez,

Puxavam a linha rapidamente, com tremores sem cautela,

Arrebentavam as cordas sem conhecer ao que se prendia,

Refletindo o coração precipitado tentando correr em desfavor a solidão.

A lição do universo reverencia a grandeza dos detalhes,

Não se conhece as flores sem antes caminhar no inverno,

Não se joga ao fogo para após conhecer seu calor,

Pois o que se queima não pode após aquecer.

O primitivo é instintivo, é como fogo selvagem que consome e apaga,

Mas o amor, o perfume da alma, flui como as estações,

Passo a passo para a linha não arrebentar,

Para conhecer, enlaçar e após arder em suas chamas sem esgotar.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 13/06/2017
Código do texto: T6026760
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