Ofertório

Nesta noite em que a tempestade fustiga tudo lá fora

Meu coração silencioso

Ouve mil vozes da tempestade

As goteiras caem a cântaros

E um canto funesto ecoa em todos os cantos

Sinto-me sozinho e com medo da noite

Ligo a televisão para aplacar minha solidão

E há tragédia em todo canto, atentado em Londres

Imigrantes morrem afogados no Mar Mediterrâneo

Mais uma bala perdida tira a vida de uma criança no Rio

Apressadamente desligo minha velha companheira

E um mutismo toma conta do ar

Sinto vontade de rezar, aquela reza de infância

Que rezava antes de dormir

Mas descobri que já não lembro mais

Tento fazer uma oração espontânea

Aquela que brota no fundo do coração

Um rio de lágrimas correm pelos olhos

Pois descobri que na presença de Deus

Minha alma encontrou refrigério

E continuo minha humilde oração

Não tenho nada a oferecer ao Senhor

Apenas tenho as mãos vazias

A boca seca e amarga

E um coração machucado pelas rasteiras da vida

E continuo falando com Deus

E ouço sua voz no ribombar dos trovões

Sinto-me sem forças, não tenho nada para ofertar

Apenas necessito de carinho

E repouso tranquilo nos braços do Pai