ESTREITO ESCURO
Fomos setas forjadas em um estreito escuro onde o sol não habitava
Nos esconderijos dos lobos que viviam em suas escuridões,
Os dentes brancos se sujavam ao carmesim que vertia sobre a pele feito um rio
Onde a alma aflita gritava até esgotar seus timbres e agonizar,
A morte em sua garra inflamava a pele com suas unhas cheias de retalhos apodrecidos,
Os corvos aplaudiam com suas asas aquele teatro da morte,
A flor negra exalava o odor fétido de um sonho falecido entre seus outros cadáveres,
Era madrugada sem lua atingindo o agudo da escuridão dentro da alma,
Onde o tempo não avançava e tampouco poderia correr ao contrário,
Sepultado vivo, nos escombros de seus equívocos.
Mas fomos testemunhas daquele sol que superou suas noites,
Daquela flor que no campo consumido pelo fogo, rasgou as cinzas para desabrochar,
O animal ferido ainda podia se colocar em pé,
Com passos rastejantes, um passo após o outro,
Viu a vida refletir sobre as águas daquele rio,
Tal qual a presa liberta sente o ar de um novo amanhã,
Fomos setas forjadas em um estreito onde o sol não habitava,
Para conhecer a escuridão e procurar pelo seu dia,
Conhecer os dentes do lobo para fugir em direção a sua paz,
Conhecer a solidão para ao fim se aninhar ao amor.