O Último Verão
o meu mundo
não anda tão certo
e eu posso contar
os ratos que andam no forro
ou as centenas de tiques nervosos
que engolem os dias com a pressa
de um tempo que não voltará
pare
o circo chegou
e pela cidade de neon
as crianças correram
para ver o palhaço
de maquiagem
borrada
estranhos
dormindo no ninho
e por todas estas noites
ninguém nunca se amou
e a vida se vai
tão rápida, tão rápida
não a deixe escapar!
avance o sinal
quebre o último pecado
pois amanhã
eu sei que é certo
não estaremos aqui
e as nossas dívidas
nunca, nunca serão quitadas
e estaremos para todo o sempre
a mercê da marginalidade
que nos foi instituída
marcados
esquecidos
e renegados
nada nos foi prometido
mas estamos aqui
e no fundo
bem lá no fundo
não é preciso esconder
somos apenas vaga-lumes
vivendo, brilhando e perecendo
neste verão agora tão curto
e mesmo que vivamos
quem sabe mil anos
estas correntes
ainda estarão
aqui.