Se eu morrer, deixe-me ir
Lá no fundo uma dor
E o mundo se ilumina
Conforme eu me abro para o mundo,
E na alma um frio,
Sensação de afastamento,
Desligamento da realidade à volta.
Eu larguei minha bagagem.
Passo a passo,
Minuto após minuto,
Uma eternidade à frente.
Um sonho que se reconstrói
Com os pedaços de uma vida acabada,
Com as farpas do meu coração;
Minha incerteza.
E o frio da minha pele
Assusta, pois
Como uma animal venenoso,
Com gelo no sangue ,
Eu me enrosco em torno de mim
Defensivo, perigoso
Sem o medo de matar antes de morrer.
E com a língua vou provando
Vários sabores, texturas
Inundando-me de ilusões,
Enchendo-me com o externo
Até explodir e escorrem de mim
O desgosto, o amargor,
A desilusão realista da vida que é minha.
E dói, e eu machuco;
Eu não me importo nem um pouco.
Nunca mais chorei, desde que morri
E lá atrás ficou o “eu” que eu amava;
Um fantasma perseguindo alguém que não merece.
Um desperdício de amor.
Nele eu me desgastei.
Pintando um sorriso no rosto,
Procurando na multidão uma distração,
Evitando os reflexos, contando uma mentira.
Segue a vida que me arrasta
E eu, autômato, me afogo no mar social
Esqueço de mim, me drogo e vou curtir
E se eu morrer, me deixe ir.
Até que eu me perca
Até que eu melhore
Se eu morrer, me deixe ir.
Mas não alimente a mentira
De que ainda há felicidade pra mim.
Eu já cheguei ao meu fim.
Deixe-me desaparecer, deixe-me ir.