A MUITO

A muito tempo acordei, te vejo dormindo,

te vejo letárgico enquanto vou indo,

escuto teu sono saindo da boca

enquanto ando sobre a forca,

reparo em sua dormência

enquanto avança a ciência,

a muito antevejo sua paralisia

enquanto nasce o novo dia,

cheio de sangue dos inocentes,

a muito os sinais foram fechados,

te vejo ali, esperando, parado,

sonhei um dia pegar em tua mão

e te levar para além do jardim elétrico,

teu olhar abestalhado, cético,

me demoveu da ideia,

te larguei na prancha,

no meio da aleias,

a muito percebo sua lucidez de laboratório,

sua parábola de escritório,

a muito queria te contar sobre a poesia,

te falar sobre o falatório,

mas deixei de lado,

você morria...