SEXTA-FEIRA SEM SOL
O sol amanhecera nulo aquela sexta-feira.
E a chuva, que caía no batente da sacada, denunciava,
como a um presságio,
que só me restava um único sachê
do chá de todas as manhãs frias.
E caminhar tornar-se-ia díficil,
vislumbrar o rosto vivo das pessoas mais ainda,
que o enfiavam sob as hastes dos guardas-chuvas negros.
Que bela conversa pode se iniciar numa sexta-feira sem sol?
Quem vai ao calçadão da praia às sextas-feiras de garoas?
A vida, entretanto, não pára,
mas a vontade de ficar em casa,
de ler um livro, de estudar metafísica
e escrever poesia
consumia-me naquela sexta-feira sem sol.
E que outras vésperas de fim de semana de maio
possam vir
(rapidamente),
a fim de que a vida seja feita
de momentos nunca cíclicos,
supreendentes, todavia.
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