INTIMIDADE
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INTIMIDADE
(Por Aglaure Martins)
Eu não vim de um córrego seco
nem do vento que se faz tempestade
venho da água límpida do meio
do útero de amor e bondade.
Eu não sou desse mundo alheio
nem da seca onde o fruto não se colhe
onde o broto antes de nascer morre
e o pássaro a noite vagueia.
Eu não sei das palavras maldosas
nem da boca que ao cuspir incendeia
dessas linhas que o tempo permeia
e embola os fios que se formam.
Já não sei dos ponteiros das horas
das curvas e retas propostas
das cantigas de grilos e sereias
das pancadas que no peito assola.
Vejo rodas de furos vedados
vejo cordas e cordas e cordas...
Vejo puro o delito guardado
e impuro o que o dia me mostra.
Vou no embalo da rima que dobra
e desdobra o que não foi laçado
e lançado ao rio acalora
o presente ausente passado.
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JP08052017