Sangrando
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Sangrando
A sorte está
na percepção dos valores;
na comunhão dos dons;
na emoção dos talentos.
A morte está
no silêncio do descuido;
na languidez da indiferença;
no conflito da anulação.
A corte está
no corte que não sangra;
na maestria da palavra certa;
na honraria que desvirgina o tapete.
O forte está
na muralha transcendente;
no braço que aceita o abraço;
na humildade do que é singelo.
O norte está
na direção certa;
no contrário também, ao sul;
no frio das geleiras do amor.
O talento é mitigado
diante do pessimismo.
Por que manter a arte,
se não existe envolvimento?
A vida é posta ao rés do chão
diante do menosprezo.
Por que voar,
se os pés incomodam o outro?
O palácio sucumbirá
diante dos súditos.
Por que digladiar,
se a vitória é de Pirro?
A força não prevalecerá
diante da palavra que é brinde.
Por que tantas traças,
se meu cálice não sangra?
O azimute não encadeia
diante da rosa dos ventos.
Por que velejar,
se o porto está em nós?
A arte corta a artéria
diante de olhos céticos.
Por que tanto pranto,
se o que brota é o sangue azul?
Nijair Araújo Pinto
Iguatu, 5 de maio de 2017.
00h04min
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