Os Garotos de Vidro
de volta a infância
doze anos ou menos
no centro da sala de estar
sem ao menos se importar
seu pai devora um cigarro,
deve ser o vigésimo primeiro
nas últimas catorze horas
em pouquíssimo tempo
tudo deve chegar
ao seu fim
uma estranha figura
dançando nas sombras
os santos já foram dormir
e as velas não chegarão
até a manhã de abril
e eles estão lá fora
com seus olhos de pedra
sem dizer uma única palavra
tossindo e cuspindo seus catarros
que triste família tuberculosa
a mais tonta que já vi
aos domingos, às quatro da tarde
vozes se elevam na sala de estar
já não é como da primeira vez
mas nunca deixa de doer
tudo de novo
uma estranha febre
derrete as crianças às nove da noite
e quando a mãe vem beijar suas testas
uma gota escorre pelo canto do olho
podia ser uma lágrima, mas não era.