Suave Medo
Uma melodia atravessa minha alma
Suave, mas sem pedir licença, vai invadindo
Abrindo portas que me esforcei por manter trancadas
Suave, tudo é suave enquanto a neblina cobre o mundo
Tudo é suave menos o que sai daquelas portas
Medo.
Em meio às notas suaves e à brancura da neblina, medo
Que a indiferença me permitiu fingir não sentir
Mas que esteve lá desde que aprendi o que era ver o amor partir
Medo.
Por algo que está tão longe, mas parece ainda doer tão perto
Por algo que sempre esteve longe, mas que poderia estar perto
Sem garantia nenhuma de que poderia dar certo
Medo.
Por todos os finais que doem tanto que parece preferível nem começar
Pela estagnação que sufoca quase tanto quanto o medo de mudar
Pelo amor que amei tanto e hoje não tenho a quem dar
Medo.
De encarar a vista deslumbrante na ponta do abismo onde já me esfolei
De saber que o que sinto vale tão pouco num mundo sem amor ou lei
De errar de novo do jeito profundo que já errei
Medo.
De reviver o que está atrás da porta
Atrás do medo
De lembrar que as coisas que confortam e as coisas que machucam equilibram a mesma balança
Medo de que quando a melodia se for
Não sei se voltarei ao torpor
Ou se a porta aberta me permitirá recomeçar
Para além do medo