PARA NÓS MESMOS
E se fossemos confrontados com nós mesmos,
E se esse nosso outro “eu” nos olhasse nos olhos,
Se pudéssemos nos julgar, sem as tentativas de ocultar o que de fato somos,
Será você acusaria o quanto tempo perdeu nas indecisões,
O quanto deixou de viver por covardia, tentando evitar as dores,
E que as inseguranças foram de fato suas prisões,
E o maior machucado não foi ocasionado por ninguém,
Mas por você, quando tentou prolongar algo que já estava no fim,
Como se quisesse manter um moribundo sentado sobre o sofá
Para evitar a saudade, sem ter que tolerar o fedor de sua podridão.
E se fossemos confrontados com nós mesmos,
Será que seríamos sinceros ao apontar as falhas e acertos,
Ou mentiríamos mais uma vez, para fugir daquilo que assombra todas as memórias,
Será que a criança que fomos se orgulharia de nós a ponto de dizer que “eu me tornarei ele”,
Será que seríamos capazes de nos mostrar quão escravos nos tornamos do “e se...”,
E que só precisamos um pouco de força de vontade possa superar, apenas arriscar mais,
Se aquele outro eu fosse honesto, e falasse que é tolice voltar ao passado,
E te dissesse para fazer melhor, mudar as atitudes daqui em diante,
Para da próxima vez encontrar um “eu” que nada iria mudar,
E se essa fosse a noite deste encontro, o que diríamos para nós mesmos?