PARA NÓS MESMOS

E se fossemos confrontados com nós mesmos,

E se esse nosso outro “eu” nos olhasse nos olhos,

Se pudéssemos nos julgar, sem as tentativas de ocultar o que de fato somos,

Será você acusaria o quanto tempo perdeu nas indecisões,

O quanto deixou de viver por covardia, tentando evitar as dores,

E que as inseguranças foram de fato suas prisões,

E o maior machucado não foi ocasionado por ninguém,

Mas por você, quando tentou prolongar algo que já estava no fim,

Como se quisesse manter um moribundo sentado sobre o sofá

Para evitar a saudade, sem ter que tolerar o fedor de sua podridão.

E se fossemos confrontados com nós mesmos,

Será que seríamos sinceros ao apontar as falhas e acertos,

Ou mentiríamos mais uma vez, para fugir daquilo que assombra todas as memórias,

Será que a criança que fomos se orgulharia de nós a ponto de dizer que “eu me tornarei ele”,

Será que seríamos capazes de nos mostrar quão escravos nos tornamos do “e se...”,

E que só precisamos um pouco de força de vontade possa superar, apenas arriscar mais,

Se aquele outro eu fosse honesto, e falasse que é tolice voltar ao passado,

E te dissesse para fazer melhor, mudar as atitudes daqui em diante,

Para da próxima vez encontrar um “eu” que nada iria mudar,

E se essa fosse a noite deste encontro, o que diríamos para nós mesmos?

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 23/03/2017
Código do texto: T5950168
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