Quando éramos humanos
quando éramos humanos
eu consultava a lua
sobre nossas almas perdidas
na hora da ceia imperava respeito
pelo vinho e pela carne
percorria-se a solidão em alta velocidade
e nada era escrito
já que tudo estava nos olhos
éramos bons e gentis quando humanos
as manhãs acordavam presságios de liberdade
o amor transitava satisfeito e dono de si
os espelhos sorriam à nossa passagem
e os milagres chegavam a horas marcadas
quando éramos humanos
bastava um aceno de mão
para acender o arco-íris
e era sempre verão
com direito a brisa marítima
quindins, céu azul e ginga no andar
éramos pacíficos e abnegados quando humanos
as crianças adormeciam satisfeitas
das brincadeiras e festividades
não se perdia o tempo
pois era sempre presente
suficiente para fazer valer o dia
e no silêncio das montanhas
guardávamos as rezas e o caminho das estrelas
naquele tempo não havia o ofício de poeta
entre nascer e morrer
poetas éramos todos
Helenice Priedols