HORRENDA CRIATURA
Estava eu, esta horrenda criatura do sertão, a me perguntar sobre a beleza das coisas.
O céu, beirando o colapso do dia, entregava-se rendido, sem forças, a noite que me cobrava à conta das horas.
Mais uma vez o ‘o que poderia ser’ torna-se história de um dia vivido. E mergulhado na escuridão noturna caçava eu o que dizer sobre o que eu nunca dissera.
O que passou já foi embora.
O que foi embora; foi embora, porque passou.
Eu e ela nunca mais nos encontramos.
Nunca mais dissemos que nos amamos.
Amávamos um ao outro como almas gêmeas.
Almas que sabem o que sentem.
Sabem perdoar;
Sabem deixar pra lá;
Sabem dizer sim ou um não, um não com perdão. Quem ama sempre perdoa: Eis a fraqueza do amante que na vida se atordoa.
Sabe eu fiz de tudo. Vesti luto por noventa dias!
Sabe eu a estendi a mão. Mas, ela não a viu!
Seus olhos como pequenas bolas de vidro congeladas estavam a olhar o tempo. Nem um beijo de irmão a faria despertar.
E eu pensei ser tudo.
E eu acreditei ser o rei.
E eu rezei a reza que ela não sabia.
E não disse a poesia, ou cantei a canção que nos levasse a algum lugar.
Ela era linda;
Ela era tão desejável quanto a mais bela moça de minha juventude.
Estava eu no fim do dia quando o sol some no horizonte lilás.
Hora que lembranças nos trás. Havia uma pequena que morava perto do Riacho Fundo. A menina encantou-se por um cavalheiro estranho. Diz o povo que no final de sete luas ela sumira no mundo. Ninguém sabe o paradeiro dos dois...