O Tempo
Passa o sono que não vem
Passa o mês, o passo apressa
Passa a faca e o que convém
E vai pra missa, a ré confessa
Passa a praça, o presságio
Passa o que o amor doou
Passa os dribles nas jogadas
Passa a bola, e agora é gol
Passa os blefes, os macetes
E a flor já desbotou
Passa o rato e, lá no prato
Cata tudo o que restou
Passa a rua, passa a água
Que dentre dedos escoou
Passa o tempo, passa a dor
Passa o réu que se matou
Passa a hora e a roda gira,
Passa enfim o que entalou
Passa o povo que dormira,
E a sorte não vingou
Passa a fome, o cansaço
E o palhaço que surtou .