TODOS IGUAIS?
Sociedade camuflada
A beira da estrada
Não existe ninguém
Embaixo do viaduto
Embaixo da ponte
“Não existem favelas”
E no mais,
“Tudo Bem”
São todos iguais
Todos têm capitais
Para sobreviverem
Todos têm educação
Uma boa alimentação
E o no mais “tudo bem”!
Não existe guerra
Todos têm suas terras
Para cultivar
Sua plantação
Todos são irmãos
Ninguém vai lutar
Contra esta maré
Não somos “mané”
Rezamos com muita fé,
E isto basta!
É melhor ficar quieto
É melhor não dizer nada
É melhor ser “esperto”
A que dizer que as
Coisas estão erradas.
Assim ficamos ricos
E os pobres que se explodam
À beira da estrada,
Mesmo porque “Deus quer assim”,
Meu capital é abençoado por Deus
Não tenho culpa dos pecados teus,
Fico na minha,
Melhor para mim!
Se existem palafitas
Alguém querendo uma marmita,
Outros que assinam com o dedo polegar
Nada posso falar,
Apenas sigo meu destino,
Sou filhinho de papai
Que sempre me deu de tudo
Não me preocupo com o mundo,
Os outros que se explodam para lá
Quero mesmo é curtir uma balada
Tomar cerveja com mulher pelada
E minha vez bem afiada
Para novamente colocar meu pé na estrada
Da quase pura perdição,
Revolução, que nada,
Isto é uma piada
Com contra indicação.
Não vou transformar o mundo
Nem sou vagabundo
Sou alguém que nasceu com ele para lua
Não é culpa minha nem tua,
Apenas sou assim
Solto a revolução para longe de mim
E sou consumista desenfreado,
Desta maneira o comunista coitado
Que se exploda com suas ideias malucas
De querer uma sociedade igualitária
Com dominância proletária.
Quero mesmo é viver
Cada dia como se fosse o último
Sem conexão com o passado
Também não quero saber do futuro,
É verdade, eu juro!
Vivo o aqui, agora,
Nesse instante
Usufruindo do diamante
Que os outros lapidaram
E não estou nem aí
Para o social
Quero mesmo é viver do capital
Espoliado dos pobres imbecis
Destes vários brasis
Que sustentam toda a riqueza
Que coloco sob minha mesa
E desperdiço quase tudo
Porque não quero transformar o mundo,
Apenas vivo o meu mundo
Da mais pura hipocrisia
Porque mato a poesia
Com a arrogância da burguesia
Que olha para si
Como muito bem está fazendo o Trump
Contra todo o processo democrático
Construído às duras penas
E ele não tem pena
De destruir tudo sem a menor cerimônia
Assim faço parte
De tudo isto
Destruindo até a arte
Já que ela nos faz pensar
E isto dói à cabeça
E não quero esta coisa para mim.
Sou mesmo um jovem alienado
Não quero fazer nada
Contra tudo o que está aí agora
Quero mesmo é dar o fora
Desse discurso esquerdista
Que é contra o capitalista,
Apesar de eu ser apenas um consumista,
Vivo bem o agora
E o futuro do meio ambiente que se exploda
Porque eu sou mesmo egoísta
E só penso em meu benefício próprio...
Faço luxo!
Faço lixo!
Vivo luxo!
Vivo lixo!
Destruo o meio ambiente inteiro,
Sou sem noção!
Sou brasileiro
Não tenho conscientização,
Mas tenho dinheiro
Vivo no luxo
Feito chiqueiro
Só que sou “chic”
Por que o meu dinheiro
Dá-me status
E posição de destaque nessa sociedade
Fajuta, esnobe, hipócrita,
Que mais parece um galinheiro
De galinhas sem penas
Num eterno puteiro
Que os portugueses criaram
No período de colonização
E ainda não nos desvencilhamos
Por pura acomodação
E assim seguimos destino algum
Nessa “maravilha” de nação.
Sou jovem!
Esnobo dos mais velhos!
Os chamo de quadrados
E eles ainda assim sustentam
Esse país desgraçado
Porque eles muito lutaram
Em seu passado
E muitos ainda trabalham para sustentar
Os mais jovens com seus luxos descompassados!
Sou jovem e admito
Que pelos velhos,
Sou sustentado!
Eles dizem que não dou um prego no sabão!
Concordo com eles na maior perfeição!
Levanto tarde todos os dias
Porque fiz farra à noite inteira
Com o dinheiro dos mais velhos
Sou a mais pura perdição
Bebo cachaça e uísque
E também muito energético
Faço academia
Para manter meu corpo atlético
Não estudo,
Não faço nada
Não leio livros,
Só fico nas redes sociais
Comunicando com os meus
Para fazermos trocas de casais
Somos massa,
Somos tudo,
Em nossos belos bacanais!
Não estou, mas sou matriculado na faculdade,
Meu pai me envia mesada para eu estudar
Cada vez mais,
Exijo mais grana
Para na putaria farrear
E eles pensam que estudo,
Mas, minto para eles numa boa,
Bebo todas biritas
Com amigos e nossas cabritas
Em festas “have” regradas com drogas lícitas e ilícitas
E mocinhas “inocentes” dançando funk
Sem roupa de baixo,
Sem calcinha,
No que dá isto tudo
Nem preciso lhe informar
É só pensar um pouco,
Bicho!
O negócio é louco,
Nesse nosso mundo a bailar!
Sigo nosso movimento,
O de nada fazer,
Apenas sou atento
Ao belo prazer
Seja da carne
Seja de uma noite de luar
Só que nada disto curto,
Sou mais um cara que sabe se virar
À custa dos velhos
Que não sabem negar
Um pedido dos mais jovens
Que querem lhe matar...
Eu sei que não presto!
Eu não valho nada!
Música de protesto
Para mim é uma piada
Gosto mesmo é de tudo o que não presta
Adoro uma grande festa
Até altas horas da madrugada.
Lá ouço o “batidão” eletrônico
Também o que se chama sertanejo universitário
Gosto do forrozão que mostra os bumbuns das piradas
Aqueles delas bem turbinadas
De silicones por entre suas pernas torneadas
Que me deixa feito hienas dando risadas
Ficando louco para dar uma bimbada
Em uma dessas garotas que se dizem
As belas e preparadas...
Eu quero sexo,
Não quero rock in rol,
Quero “have”
E muita grana na parada
Que meus pais me dão
Pelas belas mesadas
E daqui grito feito cigarra desafinada
Que quando canta morre
E eu tomo um porre
Da mais sinistra encruzilhada
Já que não passei em nenhuma matéria
Da faculdade que não sei nada,
Apenas colei tudo
E deste maldito mundo
Tenho a senha decorada...
Não sei ser honesto nem comigo
Nem com ninguém
Sacaneio com o outro
Só para me dar muito bem,
Só que às vezes me “fulasco”
E não estou nem aí,
Por que jogo a responsa para meus pais
E fico morrendo de rir...
Eles assumem os meus pepinos
De forma muito tradicional
Pagam as contas que faço
De maneira sensacional,
Pois seus nomes nunca foram “sujos”
E por isto vivo num eterno “carnaval”
Sendo sustentado por eles
Seja no início, meio ou no final!
Araguaína – TO, 2016.