Implacável Vingança

Ao longe,

Além do barulho da multidão,

Descortina, insistente,

Uma locomotiva,

Que ressoa e ressona,

Em sonho,

Um passado em marcha à ré.

Hoje submerso,

Na linha do horizonte,

Onde a vista do cego ignorante,

Esfumaçada pelo tempo,

Não alcança,

Mora um refratado, refratário,

E indiferente raio de sol.

Mas uma implacável vingança,

Nobre, justa e torturante,

Reverbera pelo ar.

Ao fim da tarde,

A maré vazante revela:

Um reino distante, intangível;

Um enorme castelo;

Um Rei, uma Rainha e uma Princesa,

Protegidos por um cão dourado,

E por uma muralha de girassóis.

E à beira do vazio,

Arrebatada pelas sombras,

Jaz, imóvel, uma besta desgraçada,

Acorrentada a um rochedo morto,

[estéril e pesado,

Mas, ainda assim, vingada:

Consumida pelo Sol,

Corroída pelo sal,

E amaldiçoada pela inveja.

Fábio Vasques
Enviado por Fábio Vasques em 27/02/2017
Reeditado em 28/02/2017
Código do texto: T5925794
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