Implacável Vingança
Ao longe,
Além do barulho da multidão,
Descortina, insistente,
Uma locomotiva,
Que ressoa e ressona,
Em sonho,
Um passado em marcha à ré.
Hoje submerso,
Na linha do horizonte,
Onde a vista do cego ignorante,
Esfumaçada pelo tempo,
Não alcança,
Mora um refratado, refratário,
E indiferente raio de sol.
Mas uma implacável vingança,
Nobre, justa e torturante,
Reverbera pelo ar.
Ao fim da tarde,
A maré vazante revela:
Um reino distante, intangível;
Um enorme castelo;
Um Rei, uma Rainha e uma Princesa,
Protegidos por um cão dourado,
E por uma muralha de girassóis.
E à beira do vazio,
Arrebatada pelas sombras,
Jaz, imóvel, uma besta desgraçada,
Acorrentada a um rochedo morto,
[estéril e pesado,
Mas, ainda assim, vingada:
Consumida pelo Sol,
Corroída pelo sal,
E amaldiçoada pela inveja.