As Lobas
Elas se olham sempre a se despir
Os lábios mordem pra se consumir
Se deliciam com suas cerejas
Da cabeça aos pés miram-se e desejam
Querem ficar enfim uma dentro d'outra
Bocas roçando os apelos da pele
Não se repelem, gemem e não se ferem
E não diferem nos seus sentimentos
E uivam como lobas
E adormecem quais os querubins
Ah! Se eles não fossem ruins
Ah! Se cuidassem de mim
Juntas declaram-se menina mulher
Uma é garfo e a outra colher
São para tudo o que der e vier
Tão parecidas assim com um vulcão
Em erupção ardem seus corações
E as lavas e as labaredas
Se espalham por sobre os lençóis de sedas
Naquelas duas transparências nuas
E nos nuances de seus queixumes
Elas são lagartas faiscantes no quarto
Depois borboletas vibrantes no espaço
Que entre beijos, carícias e abraços
Estão à sós bem felizes sem nós
Homens vorazes e antigos algozes
Que batem e matam e ainda hoje
Sufocam suas vozes