ALÉM DOS MUROS
Quando éramos crianças ficávamos na varanda olhando as tormentas de verão,
Sentávamos na rede, balançávamos no ritmo em que os ventos açoitavam as árvores,
O chão ficava todo molhado daquela chuva, mas logo havia um arco-íris no céu,
E todos nós corríamos na liberdade de uma terra molhada, e os risos novamente eram liberados.
Também haviam as tardes de inverno, quando as chuvas pareciam um abraço apaixonado,
Tardavam em se despedir, mas estávamos lá com nossos velhos agasalhos,
Os jogos não permitiam o tédio fazer morada,
E os alunos de uma escola se transformavam em reis e rainhas.
Sabe aquele dia em que percebemos que já não nos arriscávamos em estratégias de tabuleiros,
Por vezes parecíamos as tormentas do verão, e o chão trocava as águas doces pelas salgadas,
Mas as chuvas de verão não eram para sempre, nossas lágrimas também não,
E as sete cores do sorriso recobriam o semblante com seus recomeços.
Entretanto, já fomos cobrados tão duramente que nos tornamos as chuvas de inverno,
Daquelas que não dão trégua, e a sorte de uma cama fria era a melhor opção,
Felicidade seria se fosse permitido trocar a angustia pelo velho tédio,
Mas já não éramos alunos e tampouco haviam castelos.
Mas sabe, nenhuma árvore morreu,
Nenhuma planta deixou de florescer,
Nem as chuvas agudas, nem as crônicas afogaram aquele jardim,
E não importava quantas chuvas viessem, o arco-íris iria voltar, o céu azul estava lá, escondido em algum lugar.
É que criei muros e um grande portão de madeira para me proteger dos ventos,
E coloquei poucas flores nos canteiros dos muros para sorrir amarelo,
Mas eu estava trancado, me afogando pelos contornos e secando por dentro,
Parece que esqueci, mas nas aulas de história eu aprendi que muros eram sempre cruéis.
Nunca sabemos a hora em que a chuva terá sua pausa abrindo as cortinas do céu,
Mas você foi mais ousado, sabia abrir grandes portas, sabia ver além dos muros,
De repente você se transformou nas cores daquele céu,
E eu o presenteei com as novas flores do meu jardim.