QUANDO OLHO
Quando olho para uma criança
procuro não ver o adulto nascendo
com mãos sorrateiras a roubar-lhe seu bem mais precioso, sua alma,
branca como a nuvem que passa sem vontade de chorar...
Procuro ver o quanto o mistério permanece oculto,
a energia que pulsa em seu corpo ainda evoluto;
dói-me saber que a natureza, a lhe dar crescimento,
lhe dará o mais perigoso dos inventos,
a ideia da construção humana em progresso,
torná-la um envelope de todos os sortilégios,
carta marcada nas mãos da cigana
que lê as evanescências pós cemitério...
Quando olho para uma criança
me pergunto por que os deuses
soltaram suas mãos e fizeram com que se agarrassem
nas linhas geométricas da arquitetura humana,
bela, esbelta, formosa, egocêntrica,
porém, insana...