Leio, logo existo

Certo dia, que hoje julgo ter sido o dia certo

Detive-me contemplando a planície das folhas de um livro

Atentando nos mundos, noções e imaginações,

Na pluralidade de percepções

Que das páginas transbordavam

Impregnadas de vida

Tal que não se afigurava nítida, de tão pouco vívida

A fronteira entre o real e o imaginário.

Era como que um mundo híbrido

De um hibridismo tímido, mas desmedido

O que o tornava tudo e simultaneamente nada

Nada a que os meus olhos se habituaram

Ou que os meus sentidos vivenciaram

Nada que os sonhos meus sonharam.

Tornei-me voluntariamente cativo

Do novo universo recém-descoberto

Outrora encoberto

Pelo véu da ignorância, que ao homem enclausura,

Digo-o por certo

Não o outorgando o inalienável dom de ser liberto.

Descobri

Quando o livro abri

Que a vida que é vida não é vivida, mas lida

Que a vida está na contemplação do imaginário e não na lida

Que a essência da existência oculta-se entre a capa e a contracapa

Que até o não dito não fica isento de sentido

Pois as entrelinhas dão Asus ao subentendido.

E se leio vivo e revivo

O ontem e o amanhã de outros mundos

Eu os vivo, concomitantemente

E paralelamente a esta mundividência

Emerge a clara e notória evidência

De que só lendo se alcança a plenitude da existência

Há emergência de um novo ser,

Há transcendência

E do existir, a excelência!

Valério Maúnde
Enviado por Valério Maúnde em 01/02/2017
Reeditado em 19/06/2017
Código do texto: T5899438
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