Leio, logo existo
Certo dia, que hoje julgo ter sido o dia certo
Detive-me contemplando a planície das folhas de um livro
Atentando nos mundos, noções e imaginações,
Na pluralidade de percepções
Que das páginas transbordavam
Impregnadas de vida
Tal que não se afigurava nítida, de tão pouco vívida
A fronteira entre o real e o imaginário.
Era como que um mundo híbrido
De um hibridismo tímido, mas desmedido
O que o tornava tudo e simultaneamente nada
Nada a que os meus olhos se habituaram
Ou que os meus sentidos vivenciaram
Nada que os sonhos meus sonharam.
Tornei-me voluntariamente cativo
Do novo universo recém-descoberto
Outrora encoberto
Pelo véu da ignorância, que ao homem enclausura,
Digo-o por certo
Não o outorgando o inalienável dom de ser liberto.
Descobri
Quando o livro abri
Que a vida que é vida não é vivida, mas lida
Que a vida está na contemplação do imaginário e não na lida
Que a essência da existência oculta-se entre a capa e a contracapa
Que até o não dito não fica isento de sentido
Pois as entrelinhas dão Asus ao subentendido.
E se leio vivo e revivo
O ontem e o amanhã de outros mundos
Eu os vivo, concomitantemente
E paralelamente a esta mundividência
Emerge a clara e notória evidência
De que só lendo se alcança a plenitude da existência
Há emergência de um novo ser,
Há transcendência
E do existir, a excelência!