A Memória Somos Nós

Chega camuflada nos contos de final de tarde,

Vem no piar solitário da coruja que se aninha,

Às vezes, na luz da lua que pelo ceu caminha,

Vem como tempestades, às vezes, sem alarde.

Às vezes, como espinho doído no peito de Junes,

Numa insistência louca em buscar o que se foi

Para ir e, neste paradoxo que rumina como boi,

Adere à boca como essência dos raros perfumes.

É como mosca silenciosa que dissolve o tempo

Nos ponteiros disformes dos relógios de Dali,

Ido, que excede o que se sente, cresce e evolui,

Faz-se anacronismo em nós e mata o momento.

E como claro e escuro se opõem aos olhos de Goya,

Opõem-se nossas memórias o pretérito e o futuro.

E na soma delas, o que somos nos faz menos puro.

Vale o que temos do outro em nós, uma rara joia.

Nas pequenas histórias, reside o que nos diferencia,

Também tudo aquilo que nos iguala e nos faz plural,

Logo, a memória é em nós o particular e o universal,

Escrita, aberta, tudo que nos liberta e nos silencia!!

MAReis
Enviado por MAReis em 31/01/2017
Reeditado em 01/02/2017
Código do texto: T5898370
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