A Memória Somos Nós
Chega camuflada nos contos de final de tarde,
Vem no piar solitário da coruja que se aninha,
Às vezes, na luz da lua que pelo ceu caminha,
Vem como tempestades, às vezes, sem alarde.
Às vezes, como espinho doído no peito de Junes,
Numa insistência louca em buscar o que se foi
Para ir e, neste paradoxo que rumina como boi,
Adere à boca como essência dos raros perfumes.
É como mosca silenciosa que dissolve o tempo
Nos ponteiros disformes dos relógios de Dali,
Ido, que excede o que se sente, cresce e evolui,
Faz-se anacronismo em nós e mata o momento.
E como claro e escuro se opõem aos olhos de Goya,
Opõem-se nossas memórias o pretérito e o futuro.
E na soma delas, o que somos nos faz menos puro.
Vale o que temos do outro em nós, uma rara joia.
Nas pequenas histórias, reside o que nos diferencia,
Também tudo aquilo que nos iguala e nos faz plural,
Logo, a memória é em nós o particular e o universal,
Escrita, aberta, tudo que nos liberta e nos silencia!!