discórdia
Eu sou selva de pedra. King Kong pendurado no alto, amante do asfalto. Uma árvore a direita, verde, perfeita, na grama sintética. Sou de plástico, sou de elástico. Inspiro e expiro fumaça, sou tempo que passa, palavra que disfarça, carro que ultrapassa. Pedestre que atravessa, vizinho que não conversa, eu sou selva de pedra. Sou sua casa, seu ódio e seu refúgio. Sou você, seu amor e seu repúdio. Sou o que se vê, e o que se esconde por trás. Chuva ácida, engarrafamento e explosão de gás. Pai dos solitários e mãe dos abandonados. De dia sou dona Conceição e de noite sou as luzes da Augusta. No frio sou a Consolação de toda solidão. Sou Grajaú, Varginha e Parelheiros, abrigo de todos os guerreiros, liberdade dos prisioneiros. Você anda por mim e vê o baseado que passa de mão em mão, o pó cheirado em cada esconderijo do minhocão, o olhar caído de cada cidadão. Aqui Deus é uma nota de cem. Quem disse que o ser humano não é o parasita? A lombriga na barriga da mãe Terra? Eu sou selva de pedra, e eu engoli seu coração.