TRANSBORDAMENTO
Para deixar de saber o que se sabe
gasta-se muitas horas,
faxina-se a prateleira de livros antigos,
pó acumulado de lições sem uso,
cadernos apagados, mortos-vivos
os poemas sem pés e nem cabeças
andam à solta pelo casarão da alma,
às vezes ruidosos demais,
às vezes em pura calma...
O que vem no vento da valiosa tempestade
está mui separado e busca de cada um a coragem,
saber para que serve o futuro predito pelos profetas,
de que valer saber se o mar vai crescer e tomar a cidade,
se o novo maldito assumiu o poder e vai secretar favo de fel,
se daqui para a frente a mentira vai assumir o lugar da verdade...
Para deixar de usar o que não tem mais uso
procure os novos poetas e suas palavras desconexas,
eles são os ferreiros e os pedreiros e os oleiros,
são eles os que sonham antes, os primeiros
a irem ao inferno e voltar, chamuscados,
são eles os que conhecem o sabor do pecado,
a ciência exata que cria o perdão,
procure esquecer o quer não vale ser lembrado,
se encha, de novo, até que transborde sue coração...