Amor em Ação
O ar quente de um hálito faminto,
Embaça a vitrine da confeitaria,
Os olhos vidrados por instinto,
Naquela manhã de inverno tão fria,
Um menino sem esperança,
Um órfão desconhecido,
Andrajosa e pobre criança,
Alma e corpo desnutrido.
As mãos geladas buscando aquecer,
Mas a fome do pequeno moribundo
Não o permitia se mover.
Do outro lado da espessa vidraça
O confeiteiro arrumava umas rosquinhas.
O vidro embaçado pela fumaça,
No menino, um só pensamento:
Quão deliciosas, estão quentinhas!
Salivava um sabor quase esquecido.
Por ali passava um soldado bem vestido,
Vendo o menino de olhos vidrados,
O soldado pergunta: filho, você quer comer?
Ao sentir a presença do homem fardado
Assustado o menino quase não pôde crer...
O homem comprou uma dúzia de rosquinhas
E as entregou ali onde o menino se encontrava
E se foi o deixando com um gesto de adeus,
Sob a neblina gelada da manhã londrina,
Mas antes o menino puxa a farda do soldado
E pergunta baixinho, meio encabulado:
Moço, você é Deus?
Este poema foi inspirado no livro de Alice Gray, Histórias para o coração.
Um fato verídico, acontecido em Londres no fim da segunda guerra mundial.