Rua Netuno
Os carros piscam os olhos e passam,
A noite cai feito pluma. Leve, leve, leve
O portal da noite está à esquerda da rua transversal ao museu
A cruz ficou no Parque das Emmas.
Os pássaros da noite voam na música que se ouve do outro lado da rua,
Uma moça canta:
“ A cada dia ando mais por nuvens / a cada dia desfolho-me como árvores antigas / julhos, agostos, setembros, outubros (...) passam-se a cada dia por mim” ...
Meses sobre a cabeça pesando como pedras, mas ela canta
E passeia pelas calçadas da Rua Netuno
Não chora, apenas canta
Quantos versos à musicar
E levantam-se as asas dos anjos em coro
E ela canta mais alto ao vê-los como pássaros, simples pássaros
Cante também a canção que toca do outro lado da rua agora,
Não escreva as partituras nos muros simplesmente,
Não olhe pra moça que canta, dê a ela uma canção completa, plena, harmoniosa.