ESPELHO DA FILOSOFIA
Tenho tantas coisas para perder e tão poucas para achar,
tempestades que não quero mais, essa falta de ar,
revoluções sentimentais, abruptos cais...
Um vasto mundo de objetos insaciáveis,
o televisor, o rádio, a lanterna
que quer enxergar o que por dentro me vai,
o fundo da minha cisterna,
como fosse eu um barco
do único cais...
Tenho tantos vazios tão cheios do que procuro,
o fiapo de luz na cortina do escuro,
a vaga sensação de nitidez
quando olho a mesma coisa outra vez,
a sensação que parece tão nítida:
será esta vida a única forma de viver
ou existem mil outras límpidas vidas?
Supondo que supus mais que suporia,
será que seria demais supor que esse viés filosófico
a algum ponto definitivo chegaria,
n'algum dia?