FIO DE LUZ

Se o dado tem seis lados

e nenhum deles se conhece,

por que estou fadado

a viver como quem tece,

de olhos fechados,

o futuro que evanesce?

Se a faca tem dois gumes

e nenhum ao outro fere,

como farei para não sangrar

quando o amor me conhecer

sabendo que nunca amei

e nem direito sei isso fazer,

nem isso sei?

Se a moeda tem a cara

e do outro lado a coroa,

e nunca se viram numa festa,

nenhuma à outra,

o que direi a mim mesmo

quando descobrir, por dentro,

a imensidão que me resta,

parte tempestade,

parte vento?

Se o fim tem um começo

e o começo terá um fim,

será que o que vivo

entre esses mundos

é o fio de luz, estendido,

o todo de mim?