E O PODER ERA SURDO E CEGO
E o velho me disse com sensatez e sabedoria:
- Naquele tempo em que a geografia
era comandada pelo rei e pela mudez,
o poder, entregue à fidalguia, era cego.
Era, o tempo inteiro, cego.
- Mas como era cego, eu lhe indaguei,
se governava todo mundo, o tempo inteiro
de modo tão sobranceiro, proposteiro e matreiro?
- Sim, era cego, respondeu-me o velho.
Na verdade, era e é surdo e cego!
Pois pouco se entrega a olhar, ponderar, auscultar
as verdades estampadas nas paisagens
em que natureza e homens de campos e cidades
inscrevem com estridência suas mensagens
de realidades lançadas ao fogo e à ardência...
Mas, sem pestanejar, pude ao velho ainda indagar:
- Ou será que há outra possibilidade:
ser o poder surdo e cego porque, na verdade,
só se entrega a dominar o mundo
para fazer crescer o tempo inteiro, de modo rotundo,
o capital, o dinheiro
cuja vantajosidade para alguns é dada
em detrimento da sociedade?...
(Luiz Carlos Flávio)