O baile
Meu amor
Nossos corpos dançam
Mas as almas se ausentaram
Em despeito à partitura
O Amor, coisa em si
Bailando a sós, em escala menor melódica
Não preenche o vazio do salão
Não desfaz a ausência
De um Ser n'Outro
Meu querido
O doce desses lábios voluptuosos
Que em ardência se tocam
E se confundem em rubra comunhão orgânica
O translúcido ensejar
Fecundado pelas promessas e esboços
Que idealizam um porvir quimérico
E terno e lírico
Não orquestram
Com maestria e faculdade
A dissolução da ausência de nós
Em Nós
Portanto, meu amor
Tomo para uma dança a falta
E, finda a música e o tinir dos saltos
E o bailar das cortinas
E o oscilar do maestro inebriado
Em vestes gravadas
Pela peremptoriedade,
Por completo me despeço
Do salão.