TENHO SEDE

Tenho sede de caminhos.

Tenho sede de alvorecer.

Habita-me alma peregrina

ávida e louca por viver!

Tenho sede de amores.

Tenho a íris no velho arco

disparando destras cores

esvaziando pesado fardo.

Tenho sede de crepúsculo.

Tenho sede de tropeços.

Meu batel singra mundos

pelejando em recomeços.

Tenho sede de banzeiros.

Tenho sede de saudades.

Sonhos correm faceiros

no ermo rio das vaidades.

Tenho sede de caboquices:

de subir o rio devagarzinho.

Sede da brisa doce meninice

que sazona tempo mesquinho.

Tenho sedes existenciais.

Tenho devaneios utópicos.

A fera vida e os doídos ais

incitam infernais trópicos.

Tenho sede de branca Paz,

de humanidade e de justiça

neste mundo que se esvai

pela insana sede da cobiça.