Lotófago
Ah, que mundo é esse?!
Olho pro céu e só enxergo fumaça,
na janela do quarto, a mesma criança tristonha.
O velho calado, a moça sem riso, no banco da praça,
procurando estrelas e a Lua de prata,
que outrora disseram...,
ainda existir!
Saber que atrás
desse pálio de chumbo,
criação insensata do homem, no mundo,
há tantas nuvens, em silêncio, passando.Incontáveis estrelas,
inaudita beleza, celestes flores douradas,
incandescentes rosas de prata,
desabrochando distante...,
nesse mundo sem fim!
Ah, cruel Lotófago faminto,
devorador de tantos jardins,
caudilho de muitos estranhos desígnios espúrios,
por que ainda conspurca a água dos rios e o ar que respiro?
Fala baixinho, sussurra para aquele triste menino,
que terrível ganância, engodo insano da alma,
da vida, de cândidos sorrisos...,
ainda cabe em teus planos!
Explica, criatura insensata,
lestrigão de sonhos humanos,
se pretende apenas manter, no cimo do céu,
o negro manto de chumbo, ou se há algum outro plano maligno,
em curso, para destruir para sempre...,
a beleza de tudo!
Há, monstro insaciável!
Vomita de teu negro cerne,
esse vinho que ainda, tua alma, entorpece!
É tão desumana a desesperança do triste menino, sentado em silêncio na mesma janela. Do velho sem fala, da moça sem riso, na praça noturna, procurando no alto, flores douradas e rosas de prata,
detrás de negra fumaça...,
nesse céu de espinhos!