MORMENTE
Diferentemente
De quem fere
Quem é ferido sente
Mui dentro sob a pele
O canto ferroso do fuzil
O que diferentemente
Difere o ferido de quem o feriu...
Sem recibo o recebente
No ato da feridura
Seja no claro do dia
Ou nas sombras da noite escura
Só sente que algo se partiu
e se rompeu a crosta dura...
Diferentemente
De quem ama
Quem acende
Não sabe – da chama
O poder de fogo
Ou do logro
De um amor inventado
Só para o prazer do pecado
Enviando o mais amado
Ao fundo do poço
Onde moram
Os largados
Da carne do osso
Do amor fatiado...
Diferentemente diferente
É o ser ou o ente
Que de repente
Se sente gente
Num mundo de repelentes
Repelidos pelos descrentes
Que explode em cores vivas
Numa salva sem preguiça
Ainda que mormente
Lhe seja mais dura a lida...