Kohelet

Quando deixei de ser eu mesmo

E as lágrimas foram o único conforto

Naveguei pelo impreciso extremo

Sem expectativas sem porto

Não pude mais querer coisas

A juventude passou

E as páginas ficaram amarelas

A beleza são mariposas

O encanto voou

Logo a curta vida em uma procela

A tristeza tem mais alma e verdade

Do que a disfarçante alegria

Que esconde nos escombros

Rachaduras e queimaduras

Diante da sua claridade.

A tristeza tem cheiro de antiguidade

É dura, sem noites ou dias,

Não carrega nada em seus ombros

Não se embriaga em frases de ternuras

Nem em discursos de humanidade.

Me pergunto, porque o amor

Tem o hábito de revelar-se

Apenas com a perda, com a dor

Partidas em dias sem cor

Com sombrias traduções

Em melodias de labor.

Quando os sonhos acabarem

E o cansaço for mais forte do que eu

Que minhas luzes se apaguem

Como um dia se acenderam

Que seja ao me despedir

Como uma mãe que deixa seus filhos

Não porque quer

Mas por causa do inevitável partir

De que em seus olhos escureceu o brilho.

Henrique Rodrigues Soares – Canibais Urbanos