Acompanhante
Num céu todo azul
Eu vejo passar um veloz avião
Sentado num banco de hospital
Viajo acenando com as minhas mãos
Ah se eu pudesse estar voando no céu
Com aquele avião
Mas estou sentado escrevendo sobre a vida
Que bate pulsando em meu coração
O sol ilumina os corredores
A luz se espalha
Nos uniformes brancos
As nuvens parecem também
Nos acalentar
Um dia quem sabe
Assim como o tempo
A gente melhora
E com vontade
Só vemos a hora
De num céu azul
Poder viajar
Ficar dodóí não é bom
Mas sei que logo passa
Assim como o avião que passou
Num vôo azul ligeiro
E vou achar graça
Com o mundo inteiro
Os médicos parecem frios
Como os bisturis
Seus olhos vêem nossas vísceras
Nosso sorriso é um estômago
O meu problema é um risco sirurgico
O meu saber é tão minúsculo
O meu músculo incauto
Meu cérebro é um sapato
Que ele calça e chuta
Mas ele é tão doente quanto eu
Morto das mortes que não aprendeu
Junta nas juntas os cadáveres
E Janta com prateados talheres
Alguns eu sei até que choram
Outros tocam em musicais
Mas tantos são tão brutais
Insípidos e incolores como intestinos
Sábios mestres meninos
Levanto do banco e sigo o paciente
Eu ainda o sigo como acompanhante