O BE A BA DO MORTO
Há um segredo em morrer.
Todo morto escondeu o jeito,
embora seja da criança a questão:
Como se faz pra morrer?
Por que o morto não volta
pra dizer que a morte funciona assim,
não dói,
se faz naquela posição,
multiplica-se por zero?
Como se expira?
Cem pessoas morreram ontem
vítimas da bomba.
Qual acordo fizeram?
Quando ensaiaram
a mesma explosão?
E a velhinha durante a operação?
Será que tentou
declamar a sua morte aos médicos,
porque foi professora
e faltou lecionar
esta aula básica?
Terá percebido a falta de tempo,
para o futuro imperfeito?
E o menino nascido morto?
Ele não seria o grande mestre
se pudesse dizer:
“Estava percorrendo um túnel,
quando gritaram,
Retorne!
E eu obedeci”.
De que modo se parte?
O morto estala
para depois descer do pedestal
chamado “ vida” ;
se deixa empurrar,
próximo dominó da fileira
ou estanca o coração pulsante,
sem nem perceber,
a existência do músculo
no seu tempo de circulação?
Anjos não me surgiram,
mas seria esta
uma exposição válida?
“Queridos, para morrer
você é um elefante bailarino.
Ele quer sair de cena e salta.
Todos aplaudem,
mas nem este elefante nota
o seu impacto sobre o chão”.
DO LIVRO: ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS